Por Luiz Miguel Modino
A carta enviada pelo Papa Francisco ao ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, acaba de ser dada a conhecer neste 29 de maio. A missiva, datada de 3 de maio, é uma resposta a uma carta anterior de Lula, enviada em 29 de março.
Lula, que está preso em Curitiba desde abril de 2018, agradeceu ao Papa Francisco por sua “contribuição para a defesa dos direitos dos mais pobres e desfavorecidos dessa nobre nação”, uma atitude sempre presente no atual bispo de Roma e que muitos veem também no ex-presidente, que aproveitou a carta para dizer ao Papa como “está seu estado de ânimo e comunicava a sua avaliação sobre o atual contexto sócio-político brasileiro”, algo que Francisco reconhece “que me será de grande utilidade”.
A carta mostra que Francisco conhece perfeitamente tudo o que acontece fora dos muros do Vaticano e que não é determinado pelo princípio da diplomacia e sim pelo princípio da misericórdia, porque poderíamos dizer que com sua carta ele quer tornar realidade, salvando as distâncias, o princípio evangélico, “eu estava na cadeia e você foi me visitar”. Diante da frieza nas relações entre o Vaticano e o atual governo, em suas palavras a Lula, o Papa Francisco demonstra proximidade e afeição, dizendo muitas coisas sem dizê-las.
Nesse sentido, pode-se entender que quando ele fala de “proteger pessoas” ou “trabalhar para criar as condições de um futuro digno e justo”, algo cada vez mais difícil em um país onde as desigualdades sociais estão crescendo cada vez mais, o que está sendo acentuado com a tentativa de reformas do governo, que segundo analistas diferentes só vão prejudicar os mais pobres. Isso contrasta com o fato de que “a política pode tornar-se uma forma eminente de caridade, se for implementada no respeito fundamental pela vida, liberdade e dignidade das pessoas”, diz Francisco a Lula.
Aproveitando o tempo pascal, o Papa convida o ex-presidente a viver este momento desde a esperança, tendo como força que nos sustenta o fato de que “o bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira”, algo que Lula tem insistido em repetidas ocasiões, especialmente nas entrevistas concedidas nas últimas semanas à mídia brasileira e estrangeira, onde ele deixou claro que além de estar preso ou livre está o fato de que a verdade seja esclarecida.
Nos últimos tempos, além de ser preso, Lula foi atingido por vários episódios de morte, lembrados pelo Papa Francisco. A morte de sua esposa, Marisa Leticia, em fevereiro de 2017, a morte de seu irmão, Genival, em 29 de janeiro, estando já preso na cela da Polícia Federal de Curitiba, a cujo funeral não teve permissão para ir, infringindo a lei, e especialmente seu neto Arthur, apenas 7 anos de idade, no início de março, o que, de acordo com o próprio Lula, foi um duro golpe para ele.
O Papa Francisco mostra-lhe “minha proximidade espiritual e lhe encorajar pedindo para não desanimar e continuar confiando em Deus”. Ao mesmo tempo, ele garante a Lula sua oração e pede que ele ore por ele, concedendo-lhe sua bênção.
Agora podemos esperar as reações que vão surgir, não apenas do governo, cuja popularidade está diminuindo com muita rapidez, mas também de grupos católicos conservadores, apoiadores do atual presidente e contrários às atitudes do Papa Francisco.